A guerra política se tornou a guerra de palavras e, no meio da gritaria e exaltação, sou atingido.
O S passa pela minha perna esquerda, o E no ombro direito. O M atinge em cheio minha barriga.
Uma pausa para o respiro e para que o atacador se recarregue de suas balas e, então, começa novamente.
O C enrosca em meu pescoço, o A cola em minha mão, o R atropela meus pés. Outro A passa voando por cima de minha cabeça, o T finca minhas costas, mais um E raspa minha perna e o ataque final vem em forma de R, colando em meu peito.
SEM CARÁTER
No fim, a batalha se encerra, caminho para um lado, meu opositor para outro, nosso laço está desfeito.
O embate político acaba, mas sigo machucado. Ferido por palavras que doem mais que balas. Sangrando dor, mágoa e solidão.
Perdi um amigo para uma discussão cega e passageira.
Ganhei um rótulo falso e permanente.
Caráter dizem as letras que me marcaram, mas seu sentido foi esvaziado resumindo-se, apenas, à política e apagando todas as ações que, um dia, o embasavam.
Posso manter o carimbo de caráter na pele, mas o SEM não me pertence.
Outubro/2018